Agência Corinthians
São Paulo, Brasil
“O Dudamel era um cara que às vezes queria muito mandar, mandar, mandar.”
“Deixava a gente trancado no CT e tal.”
“Tem alguns jogadores que não gostam disso.”
“Acabavam ficando de saco cheio..”
“Pô, o cara quer mandar em tudo.”
O desabafo de Nathan à Record TV Minas, ontem, demonstrou claramente o que pode acontecer quando um treinador tenta se impor diante de um grupo.
Chamou a atenção de quem acompanha o futebol sul-americano de perto, o fraquissimo desempenho do Atlético Mineiro sob o comando do melhor treinador da história da Venezuela.
Dudamel é o responsável pela revolução tática do time venuzuelano. Foram quatro anos marcantes.
O país, acostumado a ser o pior das Eliminatórias da América do Sul, deu uma guinada importante. Passou a ter um futebol competitivo, de muita intensidade, velocidade.
Nos quatro anos, o governo de Nicolás Maduro tentou se aproveitar politicamente do sucesso da seleção. Até Dudamel resolveu ‘dar um basta’. E surpreendeu a todos pedindo demissão.
Ele já conversava com o Atlético Mineiro.
Tinha a promessa da diretoria que teria ‘carta branca’ para o período de adaptação e liberdade para reformular o elenco.
Só que os resultados foram péssimos, vergonhosos.
Dez jogos, 52 dias bastaram para eliminações vexatórias. Na Copa Sul-Americana, diante do Unión Santa Fé. E na Copa do Brasil, contra o Afogados, time pernambucano. Foram partidas inconvincentes no Mineiro.
Dudamel foi demitido de maneira sumária.
O elenco atleticano não mostrou solidariedade.
Nathan revela os motivos.
“A gente era acostumado, era bitolado, a só fazer um esquema, só jogar de um jeito. Aí chega um técnico e quer que a gente jogue de outro jeito. Aí alguns jogadores já começam a não gostar, e o técnico gostava de bater de frente. Ele chegou e, do dia para a noite, e ‘pum’: mudou tudo.”
“A gente não entendia muito bem o esquema tático. Ele falava para fazer uma coisa. Aí a gente fazia. E depois ele falava para fazer outra, depois falava para fazer outra. Essas coisas que não deixava muito clara para a gente”, detalhou.
O meia reclamou ainda mais de Dudamel.
“Só podia almoçar no horário que ele queria. E tem alguns jogadores que gostavam de fazer academia depois do treino. Acabava o treino, e queriam ir para a academia, mas não podiam ir para a academia, porque tinham que estar meio-dia na hora do almoço.”
“Só que o treino acabava tipo 11h40, por exemplo. Tinha que tomar banho rapidão para subir e almoçar. Se não chegasse meio-dia, ganhava multa.”
Nathan deixou claro que o ambiente entre os jogadores e o treinador era péssimo.
Dudamel soube do ataque de Nathan.
E respondeu ao Portal Merdiano, da Venezuela.
“O que queríamos é que todos almoçassem ao mesmo tempo. Um chegava às 12h, outros às 12h30. Isso para mim, como concepção de futebolista, não entrava na minha cabeça. Como seria uma equipe ganhadora se não tinha as mínimas normas coletivas de comportamento?”
“Então, para jogadores que vinham andando por conta própria, isso causou certo choque.”
“Essas declarações me soaram muito covardes, porque as portas da minha sala sempre estiveram abertas para conversar”, desabafou.
Atlético Mineiro
“O futebol brasileiro tem muitas particularidades, as quais fomos conhecendo. Tentamos ir mesclando com as nossas.”
“Para mim foi muito difícil, por exemplo, encontrar na concentração que o motorista do ônibus ou que a podóloga ou que a secretária do presidente almoçavam no mesmo momento dos jogadores, juntos.”
“Fomos dando um pouco de ordem a cada espaço, a cada área, conversando com os jogadores e com cada profissional.”
“Numa reunião com o presidente, eu disse a ele que, com todo respeito, o Atlético que encontrei era um clube social. Porque as normas que vivi no futebol e os espaços, havia muitas coisas diferentes.”
“Me lembro que ele me disse que o ‘Rei do CT’ se chama Rafael Dudamel e me deixou tomar as medidas que considerava necessárias.”
“Foi tudo tomando um norte e uma forma.”
“O clube vinha sem ganhar nos últimos anos. Já não estavam Ronaldinho e companhia. Havia que recuperar e dar uma ordem a cada espaço. Isso chocou um pouco.”
O que aconteceu no Atlético Mineiro e com Dudamel pode servir de advertência a Tiago Nunes.
Corinthians
Os jogadores do Corinthians detestaram a maneira que ele decidiu impor certas normas no clube. Como a obrigatoriedade de todos comerem juntos. Café da manhã, às oito da manhã.
Filhos dos jogadores vetados nos vestiários.
Atletas avisados apenas na véspera dos jogos se iriam ou não participar das partidas, das viagens.
Treinos pela manhã, nos dias de jogos.
Há um distanciamento entre Tiago e o elenco.
Dudamel e Nunes tinham todo o controle dos jogadores na Venezuela e no Athletico.
Mas se esqueceram.
O venezuelano estava no Atlético-MG.
E o treinador gaúcho está no Corinthians…
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