Seja no 4-2-4 ou no 5-3-2, através de jogo de posição ou jogo funcional, respeitando as diversas formas de ver o futebol. Acreditando sempre na beleza do jogo, e nas diversas interpretações do mesmo. Falo de tática tentando fugir do professoral, mas sempre buscando ir além. Como em uma conversa de bar. Sem espaço para a saideira.
Dorival Júnior se mostrou, nos últimos anos, um treinador que se adapta bem aos elencos que tem. Nunca se prendeu a uma formação tática. Sempre variou muito, usando a seu favor as características de cada plantel. Na seleção brasileira, terá de mostrar, uma vez mais, esse “desapego”.
A atual “má fase” dos laterais brasileiros coloca uma grande interrogação em Dorival: será ele o técnico a banir de vez a linha de quatro na seleção? Outros já tentaram ao longo dos anos, mas o Brasil, considerado referência quando o assunto era laterais, sempre acabou voltando para uma linha de quatro.
A seleção brasileira do inovador Nilton Santos, do incrível Carlos Alberto Torres, do fenomenal Roberto Carlos e do vitorioso Cafu não tem mais referências mundiais no setor. Os grandes clubes da Europa já não contam com laterais brasileiros. E os que mais se destacam em alto nível, hoje, o fazem quase como alas.
No 3-5-2 de Diego Simeone no Atlético de Madrid, Samuel Lino é uma grande válvula de escape atuando como ala pela esquerda. São seis gols e cinco assistências na atual temporada de um lateral que ataca muito a profundidade e pisa na área para definir os lances. Um ala que durante muito tempo na carreira jogou como ponta. Em Portugal, superou por duas vezes os dígitos duplos em gols em uma temporada.
No lado direito, apesar de o Girona preferir um 4-2-3-1 na maior parte dos jogos, Yan Couto também se destaca mais na fase ofensiva do que nos momentos defensivos. O lateral direito tem sete assistências e dois gols na temporada e é decisivo para o clube ter o melhor ataque atualmente em La Liga. Couto também aparece bem para jogar no fundo, embora consiga jogar mais por dentro do que Lino (característica muito valorizada por Dorival).
Nas últimas partidas de 2023 sob o comando de Fernando Diniz, o Brasil usou como laterais Emerson Royal, Carlos Augusto e Renan Lodi. O único considerado titular em sua equipe é o último, mas no Al Hilal, da Arábia Saudita. Todos eles, também, funcionam melhor como alas, com mais liberdade no último terço.
Internazionale e Bayer Leverkusen mostram, nessa temporada, que o esquema com três zagueiros está longe de ser uma estratégia defensiva. Na próxima sexta-feira, na primeira convocação de Dorival, teremos uma ideia se a seleção será mais um time a apostar numa linha de três, deixando uma tradição de lado.